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domingo, 10 de novembro de 2013

EFEMERIDADE DA VIDA



Ontem poderia ter sido mais um dia, um dia qualquer, mas não foi...de manhã minha filha foi fazer compras num supermercado próximo  ao local onde moramos, e nele, ela não encontrou a areia do nosso amado gatinho, pequeno contratempo que ocasionou ela ir em outro supermercado, e quando estava lá, escutou vários barulhos de tiros, e as pessoas falando que tinha havido um assalto num posto de gasolina; minha filha resolveu ir lá para ver o que tinha acontecido, chegando no local viu uma aglomeração de pessoas, e um homem ensanguentado dentro de um carro; pois dois homens em uma moto tinha seguido ele, e quando ele entrou no posto para abastecer o seu carro, o frentista já tinha pego a  sua chave,  a moto parou do lado do seu carro, e o homem, que estava na garupa, disparou vários tiros contra ele; minha filha aflita disse ao policial a paisana que estava no local, que ela era enfermeira que poderia tentar ajudá-lo; o homem deixou ela se aproximar, mas que ela não poderia tocar em nada; e minha filha percebeu que ele ainda estava respirando, bem baixinho, lentamente e sangrando muito, um dos tiros tinha acertado o pescoço dele, provavelmente a sua jugular...
 
Infelizmente o policial mandou ela se afastar, não deixando ela socorrer aquele homem; preferindo deixar o local do crime intacto, sobrepondo a misericórdia de tentar ajudar um homem agonizante, pelo menos, prestar os primeiros socorros, ter alguém para pegar em sua mão, dizer algumas palavras de consolo. Minha filha ainda tentou ligar pro SAMU, várias vezes, mas ninguém atendia, apenas ficava tocando músicas...e cinco minutos depois, ela foi vendo o rosto do homem ficar azulado, sem ele mais respirar; ela apenas disse ao policial, que ele estava morrendo, ele concordou; a SAMU só chegou depois...
 
O mais triste é que esse homem estava com um filho de 7 anos, graças a Deus, a criança estava no banco de trás do carro e não teve nada; apenas estava com a camisa suja de salpicos de sangue, tiraram a criança do carro, e procuravam conversar com ele, saber o seu endereço; e ele muito pálido respondia com poucas palavras.
 
E eu estava em casa, meio aflita pela demora de minha filha, liguei para ela e ela me contou o ocorrido; confesso que fiquei estarrecida com o acontecimento, e pedi que ela viesse logo para casa; ela chegou arrasada, se sentindo inútil,  sem ter o ajudado, exercido a sua profissão naquele momento, nem ter podido ter dado algum alívio ao sofrimento daquele homem; pelo menos tentar estancar o sangue, fazer uma massagem cardíaca ou qualquer outra coisa.
 
Ficamos conversando,  e o nosso dia não foi o mesmo, foi um sábado triste;  minha filha estava abatida, comeu pouco no almoço, e ficou lendo algumas notícias pela internet desse crime bárbaro; no qual o homem foi morto por seis tiros em vários lugares do corpo, inclusive na cabeça; quer dizer ele foi executado friamente por alguém;  que nem sequer pensou na criança que assistiu a sua maior perversidade e sangue-frio;  o seu pai sendo morto, como um pesadelo, diante dos seus olhos.
 
Fiquei a tarde toda pensando nesse acontecimento, como a breve vida de um desconhecido entrecruzou com a vida de minha filha, com a minha vida; passei, o resto do dia, orando por seu filho, apenas uma criança inocente, que ficará marcada por toda uma vida, com essas lembranças aterrorizantes; por uma esposa que perdeu o seu esposo; por um pai que perdeu o seu filho; por uma mãe que perdeu o seu filho; por uma família que foi atingida por um tragédia e jamais serão as mesmas pessoas.
 
Sei que já começaram as especulações, se esse homem era envolvido em algo escuso, que recaiu sobre ele uma punição; mas não importa a morte de qualquer homem me diminui; repito a frase que meu pai costumava tanto falar, e eu ainda menina escutava atentamente e tentava compreender toda a amplitude do seu significado...Não somos uma ilha isolada, o que acontece com uma pessoa, mexe com todos nós.
 
A morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim. John Donne
 
Ontem eu fiquei menor, minha filha ficou menor, uma família ficou menor...
 
Continuo a pensar...quais eram os sonhos desse homem, quais eram os seus maiores anseios; ontem ele apenas queria viajar, passar momentos felizes ao lado do seu filho; mas ele não chegou ao seu destino; sei que nenhuma folha cai sem a vontade soberana do Pai; e que esse homem teria de morrer naquele momento...mas ele tinha dentro dele, a semente divina, pronta para eclodir, germinar, dar frutos e flores...O que esse homem fez com a sua vida, com a dádiva divina ofertada? Inesgotáveis possibilidades para amar, servir, louvar, adorar!!!
 
'Amar uma pessoa significa vê-la como Deus pretendia  que ela fosse. Dostoieveski
 
Eu nunca vou saber as respostas, mas o Aba Pai sabe todas as respostas...
 
Continuei as minhas indagações..  se esse homem amava a Deus, se tinha comunhão com Ele, com Seu Filho amado Jesus Cristo; se algum dia, algum momento de sua vida, ele tinha cogitado sobre a maior das nossas certezas, que nunca podemos fugir, o dia da  nossa morte; o dia que o pó volta ao pó, a terra; mas o espírito volta aliviado, com fé e confiança, ao reencontro tão almejado com o Pai!...Ou então o espírito temoroso, sem ter a certeza, do seu repouso, afago?

Totalmente alheio, indiferente,  ao seu destino final???
 
Ontem eu fiquei menor, na fé creio, que mais um irmão partiu...
 
 
 
 
Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,

E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Eclesiastes 12:6-8
 
 
Não presumas do dia de amanhã, porque não sabes o que ele trará. Provérbios 27:1